Gustavo Fridman gosta de anjos, gosta de escrever sobre anjos, como um escritor judeu nova-iorquino de que gosto muito, Bernard Malamud. Em sala de aula, já brinquei muitas vezes de que o Gustavo é o “Malamud do Bom Fim” ou o «Malamud da Literatura Gaúcha”.
Mas, nessa novela, Gustavo não trata de anjos, como em seus contos. Ou trata?
Um adolescente, nerd ou não, não é um anjo?
O herói de #Semfiltro tem 15 anos. E todas as angústias e todos os sonhos de um anjo (ou menino?) de 15 anos.
O que se conta, em ficção, não é tão importante quanto o como se conta. Para mim, professor de Escrita Criativa e escritor, ficção tem 3 pernas, ou 3 pilares: Personagem, Linguagem e Enredo.
Uma história simples sobre as angústias e os sonhos de um menino (ou de um anjo?), se nos traz bons personagens e boa linguagem é uma boa história. E se uma obra desse tipo conseguir cristalizar as angústias e os sonhos de uma geração pode vir a ser uma obra-prima. Sim, porque as obras não nascem obras-primas, se tornam obras-primas. Só o futuro sabe, realmente, aquilatar (e utilizo essa palavra de propósito, derivada de quilate) o valor de uma obra.
Não quero ser profeta (o que diz antes dos outros, e na frente dos outros), mas o Gustavo escreveu uma novela infanto-juvenil que crescerá muito com o passar do tempo.
Charles Kiefer