Bem escrito, com um sarcasmo que às vezes beira o cinismo (um humanismo no avesso), o romance se apresenta também como o retrato esfumaçado da metrópole São Paulo, agressiva, quimérica, repleta de dilemas morais e éticos que se refletem no personagem central Luís Filipe. Em meio a citações literárias e queixas da própria cultura lacunosa, ele se descobre amando e odiando errado, envolvido numa trama em que se misturam impulsos de vingança e crenças esotéricas, desejo incontrolável de trair e desconfiança atormentada de ser traído.
Luís Filipe, “Fi” em seu íntimo de narrador na primeira pessoa, propõe-se paradoxalmente como um modelar cidadão que aspira a fazer da cunhada uma amante e a eliminar o inimigo brutal atirando com revólver da garagem de sua casa como quem aciona o controle remoto da televisão.